A demografia em Goiás. Municípios do Entorno crescem mais que Goiânia e Brasília
A demografia em Goiás
04 de Julho de 2023 às 08:00
Os dados divulgados pelo IBGE relativos ao Censo 2022 apontam que o crescimento populacional goiano foi o quarto maior entre as 27 unidades da federação. Parlamentares avaliam a necessidade de políticas públicas.
Com 1.053.439 habitantes a mais do que em 2010, Goiás chegou a 7.055.228 moradores, segundo dados divulgados na semana passada pelo IBGE. A população do estado era de 6.001.789 pessoas no censo anterior. Entre os mais de 1 milhão e 53 mil novos habitantes em Goiás, 607 mil são das concentrações urbanas de Goiânia e de Brasília – excluindo-se dessa conta a própria Brasília para recortar apenas municípios goianos. Posto de outra forma, 58 em cada 100 novos moradores de Goiás desde 2010 são de Goiânia, dos seus arredores ou do Entorno do Distrito Federal. O conceito de Concentração Urbana é definido como os arranjos populacionais acima de 100 mil habitantes que têm a urbanização como principal processo indutor da integração dos municípios.
Os dados do Censo 2022 foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 28 de junho.
O crescimento populacional anual goiano, 1,36%, foi o quarto maior entre as 27 unidades da federação (UFs) brasileiras no período e fez com que o estado subisse uma posição (de 12º para 11º) na lista dos mais populosos do país. Cresceram mais que Goiás apenas Roraima, Santa Catarina e Mato Grosso. No período, o crescimento acumulado de moradores de Goiás foi de 17,6%, o que se aproxima do triplo do verificado no país como um todo, 6,5%.
O Centro-Oeste continua sendo a região menos populosa do Brasil, com apenas oito de cada 100 brasileiros, mas foi a região que mais cresceu (1,23% ao ano, única taxa anual acima de 1% entre as cinco regiões do país e mais que o dobro da brasileira, 0,52%). Goiás permanece como o estado mais populoso do Centro-Oeste, com 43 de cada 100 habitantes da região, mesma proporção que tinha na década anterior.
Municípios do Entorno crescem mais que Goiânia e Brasília
Como vem se distribuindo o crescimento da população goiana?
“Na Grande Região Centro-Oeste, chama atenção a interiorização do povoamento brasileiro a partir do eixo que se forma em torno de Brasília-Goiânia, fazendo com que Goiás se diferencie nessa região pela densidade atingida pelos municípios da Concentração Urbana formada em torno da capital federal e da capital estadual”, pontua o IBGE na publicação dos primeiros resultados do Censo 2022.
Como destacado, portanto, a taxa de crescimento de Goiás é alta sobretudo em volta de Brasília e de Goiânia, embora os aumentos populacionais de Anápolis, Rio Verde, Jataí e Catalão – municípios que, mesmo não distantes das duas capitais, não integram suas concentrações urbanas, também tenham ficado acima da média goiana.
A Concentração Urbana de Goiânia, com 2.480.667 habitantes, foi a segunda que mais cresceu no país entre o Censo anterior e o atual (1,49% ao ano), e a Concentração Urbana de Brasília, com 3.858.028 residentes, foi a terceira nesse quesito (1,16% anual). Apenas Florianópolis e municípios vizinhos cresceram mais que as duas.
São concentrações, como é de se esperar, com alta densidade populacional – 499 habitantes por km2, a de Goiânia, e 224, a de Brasília. Nos municípios separados de Goiânia e de Aparecida de Goiânia, a densidade é próxima de 2 mil habitantes por km2. Em Goiás, em contraste, é de 20 habitantes por km2; no território nacional, 24.
A Concentração Urbana de Goiânia é a sétima do país em total de municípios, com 15 deles. A de Brasília tem nove (ver todos os municípios das duas concentrações ao final do texto). A de São Paulo, maior do país, reúne 37 municípios.
Cumpre destacar que as capitais, em si, crescem menos que o seu entorno. Isso se aplica também a Goiânia, que apresentou uma taxa de ganho populacional menor que a dos outros 14 municípios da sua Concentração Urbana.
A capital ganhou 135 mil habitantes desde 2010, totalizando 1.437.237 em 2022, um aumento de 10,4% no período, ou 0,83% ao ano. Trata-se de um crescimento alto em âmbito nacional (terceiro maior entre o dos 20 municípios mais populosos do Brasil), mas abaixo daqueles registrados em Goiás e, como mencionado, em volta da cidade.
Senador Canedo, por exemplo, integra a Concentração Urbana de Goiânia e teve o maior aumento populacional entre os municípios com mais de 100 mil habitantes do Brasil inteiro – 84,3%, elevando a população de 84 mil para 155 mil pessoas.
Também em volta da capital, Aparecida de Goiânia cresceu 15,8% no período; Trindade, 36,3%; e Goianira, 111,1%. Abadia de Goiás, de menor porte, teve a população quase triplicada (6.876 para 19.128 habitantes).
Crescimento pede respostas rápidas e políticas públicas
Para o deputado Mauro Rubem (PT), o fato de Goiânia crescer menos que o entorno resulta de um plano diretor e de um modelo de ocupação excludentes: “Metade dos lotes regulares estão vazios, o que é estoque para especulação imobiliária. Isso empurra muita gente para Aparecida, Senador Canedo e demais cidades”, afirma, complementando: “Essas pessoas jogadas para os municípios em volta, por sua vez, empurram outras mais para fora ainda, criando uma grande periferia”.
Um problema desse movimento, aponta, é que “não se consegue responder imediatamente” às necessidades de equipamentos e políticas públicas suscitadas pelo rápido crescimento demográfico dos municípios em volta da capital. “As pessoas são expulsas para morar onde não tem escolas. Há um aumento da desigualdade.”
Com base eleitoral em Senador Canelo, o deputado Júlio Pina (Solidariedade) destaca justamente a demanda por escolas estaduais “deste jovem município de 34 anos”. Ele destaca a recente ampliação do colégio estadual João Carneiro dos Santos, que agora comporta 3 mil estudantes. Envolvido com o projeto, o parlamentar destaca a construção de outra escola, hoje em fase licitatória, e o planejamento de uma terceira.
A demanda mais antiga dos canedenses, diz, é um hospital. “Uma cidade com mais de 150 mil habitantes não ter um hospital chega a ser algo vergonhoso. Mas sabemos que para construí-lo começando do zero precisamos de dois, três anos.” A saúde, afirma, ameaça colapsar, precisando de ações rápidas. Em resposta, Pina diz elaborar um projeto para ampliar o hospital Santa Marta, em Goiânia, próximo da divisa com Senador Canedo, a curto prazo “desafogando um pouco” a situação da saúde.
O que mais explica o aumento populacional do município, enumera o deputado, é o fato de ser um polo petroquímico, abrigar grandes condomínios, ser contíguo a Goiânia e ter, como Goiás, uma localização central no país, algo crucial em termos logísticos.
A respeito de Goiânia em si, Mauro Rubem critica a inconclusão do BRT, que prejudica a mobilidade urbana e implica custo de funcionamento da cidade. Diz, ainda, que a rede de saúde não foi ampliada de acordo com a população.
Para Delegado Eduardo Prado (PL), a Concentração Urbana de Goiânia está preparada para crescer e tem como um dos destaques o parque industrial de Aparecida. Não obstante, há desafios, como “o monitoramento dos índices de violência pública e a geração de empregos”. Já o problema do trânsito “vem se arrastando há muito tempo” e poderia ser enfrentado com ciclovia nos pontos de tráfego mais intenso, medida menos poluente, menos demorada e de investimento “menos descomunal” que o metrô.
Sobre as diferenças das Goiânias de 2010 e 2022, ano dos Censos Demográficos aqui contrastados, Prado avalia que “Goiânia investiu em infraestrutura, como a construção e melhorias de estradas, avenidas, pontes e transporte público”, o que melhorou a mobilidade, embora esse ganho seja limitado aumento do total de veículos. Melhorou também, diz, o desenvolvimento urbano, havendo “novas áreas residenciais, comerciais e industriais”, além de terem surgido “novas praças e parques, bem como ganhos no serviço público, como fornecimento de água, eletricidade e saneamento básico”. Falta ainda que esse saneamento chegue às regiões periféricas, ressalva.
De modo geral, conclui, “o legal de Goiânia é que o tempo passa, mas a cidade sempre mantém esse ar interiorano”.
Valparaíso e Águas Lindas crescem mais de 40% desde 2010
Outros municípios goianos com mais de 100 mil habitantes que se destacaram pelas taxas de crescimento de residentes foram Valparaíso de Goiás (49,5% desde o último Censo) e Águas Lindas de Goiás (41,6%), no entorno de Brasília.
Em um recorte apenas com os municípios de mais de 100 mil moradores de todo o país, Valparaíso ficou em 10º lugar nesse indicador, e Águas Lindas, em 17º.
Outras cidades daquela região que tiveram crescimento acima do estadual foram Luziânia, Planaltina e Cidade Ocidental (essa muito acima, 64,1%). Formosa cresceu um pouco abaixo da taxa goiana, e Novo Gama bastante abaixo (9,2%).
A Concentração Urbana de Brasília ganhou 460 mil moradores desde o Censo 2010. Descontado o crescimento da própria Brasília, são 214 mil novos habitantes.
Deputado com base eleitoral no entorno do Distrito Federal, Ricardo Quirino (Republicanos) atribui o crescimento demográfico da região à facilidade de locomoção até Brasília, a uma maior oferta de emprego, à proximidade com o serviço público federal, à expansão de serviços nos municípios e à construção de condomínios. Como parlamentar, sua resposta a esse aumento populacional será dedicar esforços principalmente para a melhoria da infraestrutura local. “O grande desafio será oferecer moradia de qualidade e emprego”, afirma, acrescentando que espera conjugar isso com suas principais bandeiras, que são o esporte e a população idosa.
Também com base no entorno do DF, Wilde Cambão (PSD) ressalta que o aumento populacional registrado na região é algo recorrente em todos os Censos. As pessoas vêm em busca de uma vida melhor em Brasília, diz, mas muitas vezes é no entorno que acabam sendo acolhidas. “Ali elas encontram um lugar para comprar seu lote e constituir sua família. Muitos, inclusive, conseguem uma melhora substancial e acabam convidando outros familiares a fazerem o mesmo, por isso esse volume”, pontua, destacando que um terreno em Brasília pode custar “cem vez mais” que ao redor dela.
Questionado se os municípios estão preparados para este crescimento, o deputado responde que ainda não: “Falta infraestrutura básica. O Estado, no passado, ia lá só para buscar votos. Não existia uma política voltada ao entorno”, afirma. “Hoje, temos investimentos voltados para todas as áreas. Há poucos anos vivíamos em uma das regiões mais violentas do mundo [Águas Lindas]. Atualmente não, temos índices mais baixos do que cidades da Concentração Urbana de Goiânia”.
“Claro”, ressalva Cambão, “que ainda há uma demanda reprimida, não se resolve um problema de 30 anos em 4, mas por meio de políticas públicas que deverão ser prolongadas chegaremos a esse patamar”. A respeito do peso político que o entorno ganha com seu crescimento demográfico, o deputado ressalta que o fato de ser o primeiro líder do governo na Assembleia proveniente da região demonstra isso.
Como no caso de Goiânia, Brasília cresceu menos do que os munícipios que a cercam – 9,5% de população no período, um ganho de 261 mil moradores que elevou o total para 2.817.068.
Isso não significa um baixo crescimento para uma cidade já populosa, inclusive tendo sido o quinto maior entre as 20 maiores cidades do país. Vale observar, ainda, que quatro capitais brasileiras – Salvador, Natal, Belém e Porto Alegre – perderam moradores.
Fora do entorno de Goiânia e Brasília, destacam-se duas concentrações urbanas goianas que estão entre as 20 de maior crescimento populacional do país. Em um destaque do crescimento anual de residentes, o IBGE aponta que a concentração urbana de Catalão cresceu 2,16% anuais entre 2010 e 2022, e a de Rio Verde, 2,07%. Essas taxas foram, respectivamente, a 11ª e a 13ª maior no país. No Centro-Oeste, apenas a concentração urbana de Sinop (MT), na primeira colocação nacional, cresceu mais.
Com base eleitoral em Rio Verde, Lucas do Vale (MDB), filho do atual prefeito do município, Paulo do Vale, destaca que o município, que tem forte vocação para o agronegócio, é responsável por boa parte do PIB goiano (trata-se do 4º maior PIB do estado) e grande parte das exportações estaduais. “A tendência é a de crescer ainda mais, já que cada vez mais novas empresas e indústrias estão se instalando em Rio Verde”, afirma, apontando que o setor produtivo local sempre foi um destaque.
Terceiro município brasileiro menos populoso é goiano
Em termos absolutos, o ganho populacional goianiense é o maior do estado, seguido pelos de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo (mais de 70 mil novos moradores cada uma), Águas Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás e Anápolis (mais de 60 mil).
Aparecida de Goiânia continua o segundo município goiano mais populoso, contando agora com 527.550 pessoas; Anápolis o terceiro, com 398.817; Rio Verde o quarto, 225.696. Águas Lindas de Goiás, curiosamente com apenas 25 habitantes a menos, subiu de sexto para quinto município em população, com 225.671 moradores.
Em 2010, eram nove os municípios goianos com mais de 100 mil habitantes, que em 2022 subiram para um total de 15. Caldas novas, com aumento de 39,9% da população, aproximou-se desse total populacional ao totalizar 98.622 moradores.
Goiás tem, por fim, dois dos municípios com menos pessoas em todo o Brasil: Anhanguera é o terceiro menos populoso do país, com 924 moradores (96 a menos do que tinha em 2010), e Lagoa Santa, com 1390 habitantes, é o 19º menos populoso.
Em uma perspectiva mais ampla, exatos cem municípios goianos tinham menos de 5 mil habitantes em 2010, ante 103 em 2022. O total daqueles com menos de 10 mil habitantes, por sua vez, diminuiu, caindo de 155 para 150 dos 246 que há no estado.
Os 20 municípios mais populosos de Goiás
Ranking população | Município | Habitantes | Crescimento 2010-2022 |
1 | Goiânia | 1.437.237 | 10,4% |
2 | Aparecida de Goiânia | 527.550 | 15,8% |
3 | Anápolis | 398.817 | 19,2% |
4 | Rio Verde | 225.696 | 27,9% |
5 | Águas Lindas de Goiás | 225.671 | 41,6% |
6 | Luziânia | 208.725 | 19,6% |
7 | Valparaíso de Goiás | 198.861 | 49,5% |
8 | Senador Canedo | 155.635 | 84,3% |
9 | Trindade | 142.431 | 36,3% |
10 | Formosa | 115.669 | 15,6% |
11 | Catalão | 114.427 | 32,1% |
12 | Itumbiara | 107.970 | 16,2% |
13 | Jataí | 105.729 | 20,1% |
14 | Planaltina | 105.031 | 28,6% |
15 | Novo Gama | 103.804 | 9,2% |
16 | Caldas Novas | 98.622 | 39,9% |
17 | Cidade Ocidental | 91.767 | 64,1% |
18 | Goianésia | 73.708 | 23,8% |
19 | S. Antônio do Descoberto | 72.134 | 14,0% |
20 | Goianira | 71.916 | 111,1% |
Links:
Consulta à população dos municípios e Concentrações Urbanas
Página com indicadores do Censo 2022
Censo Demográfico 2022: população e domicílios – primeiros resultados
Concentração Urbana de Goiânia: Goiânia, Brazabrantes, Nova Veneza, Goianira, Santo Antônio de Goiás, Nerópolis, Bonfinópolis, Caldazinha, Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, Hidrolândia, Aragoiânia, Guapó, Abadia de Goiás e Trindade.
Concentração Urbana de Brasília: Brasília, Padre Bernardo, Planaltina, Águas Lindas de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental e Luziânia.
Agência Assembleia de Notícias