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PMs suspeitos de torturar colega estão em presídio militar na Papuda, em Brasília

Informação foi dada pela PM na noite desta segunda-feira (29). Ao todo, 14 militares foram presos; soldado denunciou 8h de tortura para que desistisse de curso de formação para Batalhão de Choque.

 

Por Caroline CintraMarcelo Tobias, g1 DF e TV Globo

30/04/2024 00h01  Atualizado há 9 horas

 

Os 14 policiais militares presos por suspeita de torturar um colega de farda do Batalhão de Choque (BPChoque) estão no presídio militar no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. A informação foi dada pela PMDF na noite desta segunda-feira (29).

 

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cumpriu 14 mandados de prisão temporária e 15 de busca e apreensão contra militares do Choque. Segundo denúncia, o soldado Danilo Martins, que faz parte do batalhão, foi agredido e humilhado para que desistisse do curso de formação do patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque – Patamo (veja vídeo acima).

 

Ele ficou internado por seis dias, após 8 horas de tortura dentro do batalhão. Conforme relato do soldado, as agressões só pararam quando ele assinou o termo de desistência do curso (saiba mais abaixo).

De acordo com o Ministério Público, os celulares dos militares envolvidos nas agressões foram apreendidos. O curso também foi suspenso até o encerramento das investigações, e o comandante do batalhão, Calebe Teixeira das Neves, foi afastado.

No começo da noite, a PMDF disse que “não admite desvios de conduta e apura os fatos de maneira criteriosa e imparcial, observando todo o procedimento legal, permitindo a ampla defesa dos envolvidos”. A PM afirmou ainda que “instaurou um inquérito policial militar de imediato” e que não comenta decisões judiciais.

Mais cedo, a corporação informou que o tenente Marco Teixeira, apontado como o responsável por liderar as agressões, desligou-se da coordenação voluntariamente, enquanto o caso é investigado. A PMDF também havia negado que o soldado Danilo Martins tenha sido forçado a assinar a desistência e disse que “não há que se falar em tortura”.

TV Globo e o g1 tentaram falar com o comandante do BPChoque e com o tenente Marco Teixeira, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Imagem mostra soldado Danilo internado após agressões que diz ter sofrido no Batalhão de Choque — Foto: Reprodução

Os policiais que tiveram prisão temporária decretada são:

2º tenente Marco Aurélio Teixeira Feitosa;

2º tenente Gabriel Saraiva Dos Santos;

ST Daniel Barboza Sinesio;

1º sargento Wagner Santos Silvares;

2º sargento Fábio De Oliveira Flor;

2º sargento Elder de Oliveira Arruda;

3º sargento Eduardo Luiz Ribeiro Da Silva;

3º sargento Rafael Pereira Miranda;

3º sargento Bruno Almeida da Silva;

Cabo Danilo Ferreira Lopes;

Soldado Rodrigo Assunção Dias;

Soldado Matheus Barros Dos Santos Souza;

Soldado Diekson Coelho Peres;

Capitão Reniery Santa Rosa Ulbrich.

 

Em nota, a defesa de 12 dos policiais investigados informou que “em nenhum momento os referidos policiais militares foram notificados para prestarem quaisquer tipos de esclarecimentos” (veja íntegra mais abaixo). A defesa dos outros dois PMs não havia se pronunciado até a publicação desta reportagem.

 

As agressões

Soldado conta que sofreu tortura dentro de batalhão da PMDF

 

PMs suspeitos de torturar colega estão em presídio militar na Papuda, em Brasília

 

 

Na denúncia feita ao Ministério Público, o policial Danilo Martins conta que os colegas jogaram gás lacrimogênio e gás de espuma no seu rosto, que foi obrigado a tomar café com sal e pimenta, e que foi agredido com pauladas, chutes no joelho, no rosto e no estômago.

 

“Eles colocaram gás nos meus olhos, depois pediram para eu correr ao redor do batalhão cantando uma música vexatória. E depois disso me colocaram para fazer flexão de punho cerrado no asfalto, me deram pauladas na cabeça, no estômago”, conta Danilo.

 

Danilo afirma que o tenente Marco Teixeira o mandou ir para uma espécie de caixote de concreto onde foi obrigado a ficar em pé durante aproximadamente uma hora e meia. O soldado ainda disse que o tenente ordenou que ele ficasse com o fuzil cruzado no peito durante 30 a 40 minutos.

 

Depois, diz que foi obrigado a segurar uma “tora” de madeira acima da cabeça, por cerca de uma hora, com os braços esticados. No depoimento, o soldado afirma que o tenente a todo momento o agredia com um pedaço de madeira na região da panturrilha e dos glúteos.

 

Danilo conta que foi diagnosticado com insuficiência renal, rabdomiólise – ruptura do músculo esquelético, ruptura no menisco, hérnia de disco e lesões lombar e cerebral.

 

Forçado a assinar desistência

 

Imagem mostra soldado Danilo internado após agressões que diz ter sofrido no Batalhão de Choque — Foto: Reprodução

 

Danilo diz que se inscreveu no curso de patrulhamento tático móvel de 2024. No dia 22 de abril, haveria a apresentação, onde são tratadas questões documentais, de alojamento, cerimonial e toda a logística do curso.

“Eu me apresentei às 8h15, juntamente com o turno, e o coordenador já me retirou do turno e disse que se eu não assinasse o requerimento [de desistência] que já estava preenchido, ele iria me tirar, seja por lesão ou trairagem”, conta Danilo.

O soldado diz que se recusou assinar a desistência, por várias vezes. E foi quando, segundo ele, o tenente coordenador do curso de patrulhamento tático móvel iniciou as agressões contra ele, junto de outros policiais.

 

Danilo é escritor e atleta, e já venceu uma competição internacional de futebol dentro da corporação. Ele também costuma compartilhar a rotina nas redes sociais. Segundo ele, isso pode ter motivado as agressões.

“Ele [tenente] disse que muitas pessoas pediram para ele fazer aquilo e que ele não iria embora sem me desligar”, afirma Danilo.

Marcas mostram ferimentos nas mãos de soldado

Danilo Martins:

O que diz a defesa dos investigados

 

Leia, abaixo, a íntegra da nota enviada pela defesa de 12 dos policiais investigados:

 

“O ESCRITÓRIO ALMEIDA ADVOGADOS, por meio de seu Representante legal, vem informar que está atuando na defesa de 12 dos 15 Policiais Militares do Distrito Federal, os quais foram alvos de operação articulada pelo MPDFT em conjunto com a Corregedoria da PMDF, nesta manhã do dia 29/04/2024, de modo que já está sendo adotada todas as medidas legais pertinentes para o fim de restabelecer a liberdade de todos.

Ressalta, ainda, que em nenhum momento os referidos Policiais Militares foram notificados para prestarem quaisquer tipos de esclarecimentos sobre os fatos objeto desta operação, seja pelo Departamento de Controle e Correição da PMDF ou mesmo pelo MPDFT, mas apenas surpreendidos pela nesta manhã com suas respectivas prisões, razão pela qual a Defesa Técnica buscará trazer aos autos suas versões, para que então o Poder Judiciário possa aplicar o Direito da melhor forma”.