Operação mira irmãos banqueiros e executivos acusados de desviar dinheiro de clientes para offshore

Operação mira irmãos banqueiros e executivos acusados de desviar dinheiro de clientes para offshore

 

Justiça autorizou o sequestro de bens que somam quase R$ 500 milhões. Segundo a polícia de SP, o grupo empresarial enviou ativos de brasileiros para uma offshore em Belize e não os devolveu.

 

Por Patrícia Marques, Bruno Tavares, TV Globo e g1 SP

23/04/2025 06h37  Atualizado há 12 minutos

 

A Polícia Civil de São Paulo realiza nesta quarta-feira (23) uma operação contra banqueiros e executivos acusados de desviar dinheiro de clientes brasileiros para uma offshore na América Central e não devolver os recursos. A Justiça autorizou a apreensão de bens dos investigados até o limite de R$ 500 milhões.

 

Policiais civis saem de prédio com carro material apreendido em operação contra banqueiros — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Os alvos dos policiais são os endereços do banqueiro Nelson Nogueira Pinheiro e dos irmãos dele, o banqueiro Noberto Nogueira Pinheiro e o administrador Jaime Nogueira Pinheiro Filho. Os três são sócios da empresa MRCP Participações S/A.

 

A Justiça paulista autorizou o arresto de imóveis (que impede que o devedor se desfaça dos bens) e a apreensão de obras de arte, joias, dinheiro em espécie, documentos, celulares e computadores.

 

👉 A reportagem procurou a defesa dos três banqueiros, mas até a última atualização deste texto não havia obtido retorno.

 

Mais de 50 policiais também cumprem mandados de busca e apreensão na casa de diretores de empresas ligada à Nelson Nogueira Pinheiro na operação batizada de Floresta Devastada. No total, são 11 mandados de busca e apreensão em 9 endereços.

 

➡️ Offshore é o nome dado a empresas ou contas bancárias abertas fora do país de origem do dono. Geralmente, são criadas nos chamados paraísos fiscais, que têm menor tributação e sigilo bancário garantido, o que facilita a lavagem de dinheiro e a sonegação de impostos.

 

Crimes tributários

 

Policiais civis colocam no carro material apreendido em operação contra banqueiros — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Policiais civis colocam no carro material apreendido em operação contra banqueiros — Foto: Reprodução/TV Globo

 

A 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens decretou o arresto e sequestro de bens até o limite de R$ 469.098.000 de 16 pessoas e 19 empresas.

 

Entre as empresas alvo da operação, estão o banco panamenho FPB Bank Inc (que sofreu intervenção pelas autoridades do Panamá), a empresa Brickell Participações S/A (que foi liquidada pelo Banco Central do Brasil) e a Ducoco Produtos Alimentícios SA (que foi vendida para Malibu Holding SA – uma operação questionada na Justiça).

 

De acordo com a Polícia Civil, há indícios da prática dos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

 

A investigação começou em 2023 depois de uma determinação do juiz da 1ª Vara de Falência e Recuperações Judiciais para investigar uma suspeita de fraude no pedido de recuperação extrajudicial de uma das empresas de Nelson Nogueira Pinheiro, a Brickell Participações S/A.

 

Para o Ministério Público de São Paulo, há indícios de desvio e ocultação de ativos para prejudicar os credores além de manobras societárias visando blindagem patrimonial.

 

Offshore em Belize

 

Segundo a Polícia de SP, o FPB Bank, que integrava o Grupo Brickell, teria transferido investimentos de clientes, sem autorização, para uma offshore em Belize. Os ativos nunca foram devolvidos para os donos.

 

Ainda de acordo com as investigações, esse dinheiro é de empresários que decidiram reaver os valores com o programa de Repatriação, lançado em 2016 e que permitiu declarar à Receita Federal dinheiro de origem lícita, com o benefício de pagar uma alíquota menor de multa e imposto de renda.

 

Duas das vítimas, que procuraram a polícia, relataram que o prejuízo chega a quase R$ 130 milhões.

 

O advogado Guilherme San Juan, que faz a defesa de um cliente que perdeu R$ 50 milhões, disse que, após os desvios, os executivos tentaram ainda enganar a Justiça com um pedido de recuperação judicial.

 

Cuida-se de um caso emblemático em que houve o desvio de centenas de milhões de investidores. Após os desvios, o grupo tentou ludibriar o judiciário paulista através de um fraudulento pedido de recuperação judicial, que tinha o claro propósito de blindar o patrimônio dos investigados.

 

— Guilherme San Juan, advogado de uma das vítimas lesadas

 

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