Governador do Tocantins e primeira-dama são afastados pelo STJ durante investigação sobre compra de cestas básicas
Conforme a PF, as investigações apontam fortes indícios de um esquema de desvio de recursos públicos em 2020 e 2021. Governador afirmou, em nota que recebe a decisão com respeito às instituições, mas se trata de uma ‘medida precipitada’.
Por Brenda Santos, Ana Paula Rehbein, Patrício Reis, g1 Tocantins, TV Anhanguera
03/09/2025 07h04 Atualizado 04/09/2025
O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), foi afastado pelo prazo de 180 dias em decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), nesta quarta-feira (3). A primeira-dama, Karynne Sotero Campos, que é secretária extraordinária de Participações Sociais, também foi afastada. As medidas foram determinadas pelo ministro Mauro Campbell, no âmbito da investigação sobre desvio de recursos públicos na compra de cestas básicas no Tocantins, durante a pandemia de Covid-19. O prejuízo estimado pela Polícia Federal é de mais de R$ 73 milhões.
A decisão do afastamento foi referendada pela corte especial do STJ na tarde desta quarta-feira. O governador afirmou, em nota, que recebe a decisão com respeito às instituições, mas se trata de uma “medida precipitada”. Afirmou que os fatos ocorreram na gestão anterior, quando tinha o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesas. Também afirmou que determinou auditoria nos contratos e acionará os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo (veja nota completa abaixo).
Nesta quarta-feira, a Polícia Federal (PF) deflagrou a segunda fase da “Operação Fames-19”, com o objetivo de aprofundar as investigações que apuram o suposto esquema de desvio. Mais de 200 policiais estão cumpriram 51 mandados de busca e apreensão e outras medidas cautelares em quatro estados. Veja os locais:
Palmas (TO)
Araguaína (TO)
Distrito Federal
Paraíba
Maranhão
Mandados de busca foram realizadas no Palácio Araguaia e na Assembleia Legislativa, entre outros endereços. O objetivo desta nova fase da operação é reunir elementos sobre o uso de emendas parlamentares e o recebimento de vantagens indevidas por agentes públicos e políticos.
Segundo a decisão, são apurados os crimes de frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa.
A primeira-dama informou que vai se dedicar a sua defesa e que está convicta de que irá “comprovar total ausência de participação nos fatos” (veja nota completa abaixo).
Medidas cautelares
Além do afastamento do exercício da função pública, também foram determinadas outras medidas cautelares, como:
Suspensão do exercício de atividade econômica em desfavor das empresas e institutos que constam na investigação;
Proibição de manterem contato com os demais investigados ou acusados, testemunhas ou declarantes, e quaisquer servidores vinculados à Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Setas), e a outras instituições governamentais;
Proibição de acesso ou frequência ao Palácio do Araguaia, sede do Governo do Tocantins, aos prédios e repartições da Administração Pública Direta e Indireta do Governo do Tocantins; e à Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto);
Entenda a investigação
Conforme a PF, as investigações, que tramitam sob sigilo no Superior Tribunal de Justiça, apontam fortes indícios de um esquema de desvio de recursos públicos em 2020 e 2021. Nesse período, os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas.
Segundo a apuração, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados. O prejuízo aos cofres públicos é estimado em mais de R$ 73 milhões.
Segundo a investigação, os valores desviados teriam sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.
Avião da Polícia Federal no aeroporto de Palmas durante nova fase da Operação Fames-19 — Foto: Divulgação/PFTO
O foco da operação é descobrir se houve desvio de dinheiro na contratação de empresas que forneceram e transportaram cestas básicas para pessoas em vulnerabilidade social durante o período pandêmico.
Na época, as contratações foram feitas pela Secretaria de Trabalho e Ação Social (Setas) sem licitação, pois estava em vigor um decreto estadual liberando esse tipo de burocracia para executar de forma mais rápida serviços à população.
Caminhões com cestas básicas entregues durante a pandemia — Foto: Setas/Governo do Tocantins
Os contratos do governo do Tocantins investigados pela PF e STJ envolvem a compra de pelo menos 1,6 milhão de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19 no estado, entre 2020 e 2021. A suspeita da polícia é de que os contratos foram pagos, mas nem todas as cestas foram entregues à população.
Na época, as compras de alimentos e aluguel de caminhões que fizeram a distribuição em todo estado foram realizadas sem licitação, considerando o decreto de emergência estadual.
Operação Fames-19
A operação foi chamada de Fames-19 em referência à insegurança alimentar ocasionada pela pandemia de Covid-19. Fames, significa “fome” em latim e “19” faz alusão ao ano em que a doença foi descoberta.
Em agosto de 2024, Wanderlei Barbosa e a esposa Karynne Sotero, secretária extraordinária de Participações Sociais, foram alvos de busca na primeira fase da Operação Fames-19. Nessa fase, políticos e empresários estavam entre os alvos.
Durante o cumprimento das buscas na casa e no gabinete de Wanderlei, os policiais federais encontraram R$ 67,7 mil em espécie, além quantias em dólares e euros.